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segunda-feira, 28 de junho de 2010

Invictus (tradução)

Abaixo uma tradução livre (sem a precisão das rimas originais) do poema de William Ernest Henley, aqui postado na seção Poems. Espero que seja inspirador.

Do fundo da noite que cai sobre mim,
Negra como o breu de pólo a pólo,
Agradeço a quaisquer deuses que possam existir
Por minha alma inconquistável.

Nas garras da circunstância
Não vacilei, nem mostrei meu choro.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça sangra, mas não se baixa.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Se afigura o horror das sombras,
e ainda assim, a ameaça dos anos
Encontra-me, e há de sempre encontrar, destemido.

Não importa quão estreito seja o portal,
Quão carregado de punições o veredito.
Sou o mestre de meu destino:
Sou o comandante de minha alma.

Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

Poema  de William Ernest Henley, escrito em 1875, citado no filme homônimo de 2009, com direção de Clint Eastwood. O poema´é mencionado em episódio envolvendo Nelson Mandela durante seu período de prisão. Segundo ele a força trasmitida pelo poema foi determinante em sua luta para seguir vivo e vitorioso.

Coisas da Noite

A crônica abaixo foi escrita na década de 1990 e é a primeira de uma série de impressões sobre o homem urbano. O tom prentencioso lembra o início da vida adulta, o empenho narcisista, levemente heróico e sobejamente egocêntrico. Ainda assim, uma imagem da noite que quis resgatar. Espero que curtam:


É no acalanto da noite, naquele momento tênue de desconsolado breu, que os mistérios revoltam-se em  prateleiras distantes e, como livros a vagar por entre névoas esmaecidas pelo néon das ruas, atingem o sono alheio.

Foi uma dessas comunicações metafísicas a que se fez matéria em um ruído claro, efetivamente concreto e, dentro de sua continua reticência, intrigante.

Coloco os chinelos e escorrego lânguido e moribundo pelo corredor, escada e hall até avistar a soleira da porta do jardim.

Faço crer que à espera deste insone terráqueo estão os que aqui chegam para investigar a tola existência do planeta azul. Como reagir eu a pergunta, clichê de filme B americano, “Como vivem os terráqueos? Levem-nos a seu chefe?” Não creio que meu chefe saiba como vivemos, reflito que talvez se resignasse com a constatação de não saber responder a tais criaturas.

O fato é que freqüentemente nos vemos face a face com perguntas que ao longo de nossa existência foram discutidas, assumidas, resolvidas ou não, e internalizadas, penduradas na parede sem sol de nosso raciocínio, feito aquele quadro que não gostamos o suficiente para por na sala nem detestamos o suficiente para jogarmos no lixo. São perguntas que ao embolorar pelo esquecimento soltam o odor de idéias vencidas, principalmente quando enfrentam a luz lançada por qualquer rebento desavisado que sem saber da heresia da curiosidade remove o quadro dali.

“Sim, sim, somos da terra. Não, não, o chefe não mora aqui.” Poderia esboçar a discussão sobre a existência inerte da anarquia do pensamento e da atitude dos da Terra frente a onipresença no universo, mas pela dificuldade de raciocínio e no improvável da realidade, varro da mente a idéia alienígena. Soleira em noite alta, luzes da noite sobre meu couro cabeludo, lua a pino e olhar distante. Nada vejo e não saiba estar ali, por entre árvores, postes de iluminação e asfalto esburacado de cidade grande em bairro de classe média decadente. Busco restos de lucidez na revolta por me ver desperto a tal hora da noite e como que pisando de volta à realidade tento conectar o silêncio agora presente a possível  certeza de estar sendo observado por alguém.

É curioso como estar desperto em silêncios noturnos pode levar ao pesadelo do medo eminente. A incógnita de meu raciocínio parece estar atrás das árvores do jardim, concluo obtuso em olhar tão trêmulo quanto o frio que a fragilidade da ação supõe. O vento ressona um silvo leve e inspira o silêncio a lembrar-me fIlmes de ficção, suspense e morte súbita. Sou agora o habitante da cidade veloz que na calada da noite é morto a tiros por marginal em fuga, deixa filhos, mulher e cachorro. Tragédia urbana na periferia.

Ainda preferindo a história dos alienígenas, avanço ao jardim, como um Quixote frente ao moinho de vento, avançando frente às garras impenetráveis do desconhecido. Levo comigo a certeza de que deveria ter entrado no caratê junto com minha mulher e que a vassoura que carrego nas mãos não é uma lança que ferirá o coração de meu rival.

O que poderia querer esse marginal, uma TV, um vídeo cassete? É engraçado que nunca jogue em jogos de azar, mas sempre tenha o azar de perder em jogos com a sorte…Retorno para dentro. Já não tão lânguido e com o sentimento rotineiro de que me atraso ao escapar de meu destino, ouço o silvo repetido do pretenso larápio. Ladrões não silvam. São Silvas que correm, não silvos que assustam. Sinto-me vencido pelas incertezas dessa conjectura e demovo-me também da idéia do ladrão. Olho indefeso para a vassoura e da grua cinematográfica em que me projeto em plano longo e aberto, vejo-me só no jardim próximo à rua em noite aberta com rua deserta, céu claro e sério gosto de noite no ar.

Chinelos no chão frio, com o reticente som de seu arrastar amuado, cortam a visão panorâmica de um cineasta Holiwoodiano em noites tropicais.

Talvez o som noturno a me tirar da cama tenha sido filho bastardo da revolta contra a noite curta a ser abortada pela labuta matinal. Há ainda o consolo de um abraço forte em quem amamos, um beijo soprado ao filho, que pela realidade de meus medos viaja nos sonhos felizes de sua infância. Chama queimando forte, como fogo que recém aceso só tende a ganhar força e não pode nunca se imaginar brasa.

Ah, as brasas de nossos sonhos…, são, no correr dos anos, o embalar de dias amenos e pacatos, que em suas cores pastéis trazem a névoa e todas as indefinições que a existência social, pacífica e urbana, caracteriza sob o conceito de vida normal. Sou normal e mal vejo o que há de normal nisso.

Entre as brasas que se extinguem e nas lágrimas que no caminho do quarto derramo em soleiras passadas, escuto o som, cada vez mais claro, da realidade. O ladrão alienígena que me rouba o sonho é na verdade um morcego da noite que habita meu quintal, a silvar para a lua como vampiro moderno, vegetariano em busca de jabuticabas.

Já não me assusto e, certo de que era ele o vilão de meu mistério, riu menino pela analogia fictícia do vampiro que rouba, no sangue de nossa vida urbana, o sonho de uma realidade rural. Volto a dormir e abraçado a companheira fiel de batalhas concretas, à doce Dulcinéia de meus tempos de fogo alto,  spero acordar com a resto de sangue que corre em mim, para sonhar de novo em noites futuras, com mundos distantes, que arrancados da pinacoteca nobre de nossa rotina apática resgatem no menino o fogaréu da imaginação e o mistério doce que somente a Lua, com sua soberania mutante, sabe compactuar com seus súditos.

Original de 3 de abril de 1996.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O civismo nosso de cada dia


O cliente era novo. O centro de convenções também não estava habituado a eventos com interpretação. Tudo perdoável. O assunto era interessante – um atrativo, mas demandaria muita atenção. Aquela atenção que se dá a coisas novas. Que vem carregada do receio de quebrar encantos e da vontade de causar a melhor das impressões. “Olá, Mr. So and So, interessante sua tese...” “Sim, adoraria saber mais a respeito” – Bem, pelo menos essa parte era totalmente verdadeira, agora que vejo o teor e quantidade de siglas e símbolos que me esperavam.

Estávamos a 5 minutos do início da palestra, e percebia que os 40 minutos destinados ao palestrante seriam preenchidos com uma apresentação de mais de 80 slides que me acabara de ser dada, juntamente com a informação de que alguns slides foram adicionados aqui e ali. Uma matemática simples indicava problemas na velocidade da palestra. Junte-se a isso o fato da tela estar a mais de 300 metros da cabine, e eu não ter o hábito de carregar binóculos nessas interpretações. Quando vou aprender: Sempre tenha a apresentação antes da palestra (bem antes!). Nunca fique a mais de 100 metros da tela de projeção, a menos que tenha um binóculo consigo.

Começam os protocolos: Sr deputado, excelentíssimo Sr. Ciclano, magnânimo Sr. Fulano... O fato é que quando anunciaram o hino do município, ainda estava me entendendo com os slides. “Cada segundo conta!” reclamei, desculpando-me por não querer levantar para o hino. “Uma marcha meio militar,” pensei depois de alguns acordes. Pensei também que talvez devesse, de qualquer forma, me perfilar frente à bandeira do município, mão ao peito, cara de civismo e compenetrado olhar de conteúdo. Não, não tenho tempo para me sentir culpado. Prefiro ser mais preciso quando for a hora de agir traduzindo. Quem olha para dentro da cabine, afinal?

O curioso é que parecia reconhecer vários trechos do hino. Me soava como algum desses que cantávamos em datas cívicas, dia da bandeira, do soldado, algo de cunho militar, distante em minha memória, mas suficientemente perto para me pegar lembrando de versos.

De repente, o curioso desconforto de desconfiar que o hino da cidade não é aquele. E, bem, não era mesmo.

Olhei para o rapaz do som: mesa com 16 canais, muitos botões coloridos e controles deslizantes. Achava-se um piloto de aeronave espalhando som pelo ambiente. Temi por sua presunção quando a audiência descobrisse a gafe. O desconforto seria atroz. O que fazer? Ir até o fim? Pedir desculpas? Fiquei com pena do pobre rapaz. Não fez nada. E o pior é que quase ninguém reconheceu o erro. Um representante do cerimonial municipal, devidamente trajando preto (por que sempre preto?) aproxima-se do jovem. Lá pelos intermináveis 4 minutos , o resultado: uma redução abrupta de volume e o anúncio solene do condutor do evento: “Belo hino. Agora que o ouvimos, começaremos de novo, com o hino CERTO.” Ri quieto, incontidamente no escuro da cabine, enquanto novamente ouvíamos o famoso (?) hino da cidade. Ganhei mais alguns minutos para revisar a apresentação e pensar o quão presos estamos a certos protocolos sócio-culturais.

Entendo o rito e o protocolo como forma de coletivização e como reforço a um senso de pertencimento gregário. Mas nunca sei como me portar quando o rito falha. Vale rir? Posso rir? Acho que a verdade e o riso são no fundo, compadres , que se encontram sempre que se revelam essas inconfessáveis mentiras sociais. Quem queria efetivamente ouvir àquele hino? Nem eu, nem eles.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dentro De Você, Sem Você

Estávamos conversando
Sobre o espaço entre todos nós
E as pessoas
Que se escondem atrás de uma parede de ilusão
Jamais enxergam a verdade
Até ser tarde demais quando se vão

Estávamos conversando
Sobre o amor que todos poderíamos compartilhar
Quando o encontramos.
Tentar ao máximo segurá-lo
Com nosso amor, com nosso amor
Poderíamos salvar o mundo
Se ao menos eles soubessem

Tente perceber que está tudo dentro de você
Ninguém mais pode fazê-lo mudar
E ver que você é realmente bem pequeno
E a vida flui dentro você e sem você

Estávamos conversando
Sobre o amor que esfriou
E as pessoas
Que ganham o mundo e perdem suas almas
Elas não sabem
Não conseguem enxergar
Você é uma delas?

Quando enxergar além de si mesmo
Então, é possível que descubra que
A paz de espírito está esperando lá
E o momento chegará
Quando você vai ver que somos todos um
E a vida flui dentro de você e sem você

Nota: Within You Without You é uma canção escrita por George Harrison e lançada no álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band em 1967.

Within You Without You

We were talking
About the space between us all
And the people
Who hide themselves behind a wall of illusion
Never glimpse the truth
Then it's far too late when they pass away

We were talking
About the love we all could share
When we find it
To try our best to hold it there
With our love, with our love
We could save the world
If they only knew

Try to realize it's all within yourself
No-one else can make you change
And to see you're really only very small
And life flows within you and without you

We were talking
About the love that's gone so cold
And the people
Who gain the world and lose their soul
They don't know
They can't see
Are you one of them?

When you've seen beyond yourself
Then you may find
Peace of mind is waiting there
And the time will come
When you see we're all one
And life flows on within you and without you


Nota: Within You Without You é uma canção escrita por George Harrison e lançada no álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band em 1967.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Imagens de uma campanha


No sábado passado gravei com alguns personagens da cultura popular santista uma série de peças institucionais com o mote "não jogue óleo na pia".

 

O texto da camapanha é meu, bem como a direção das gravações. Produção da Fefa Castanho para nossa produtora, a Geleia Geral Filmes. Não é uma função nova, mas a experiência sempre me surpreende quando pessoas como o Luiz Américo, traz histórias do tempo da TV sem vídeo tape, ou o Thiago, não bastando ser um guitarrista excepcional, comove ao mostrar que também pinta e esculpe; e a Juliana abre seu sorriso.



NÃO DEIXE O ÓLEO MANCHAR SUA IMAGEM!

Estas imagens são uma pequena lembrança dessas pessoas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dona Flor e seus Dois Maridos (um deles, o tradutor)

E então houve um dia em que realizei um casamento. Não estou falando de apresentar alguém, empurrar amigos solteiros, matchmaking como se fala nos EUA. Foi um ato profissional e compreende uma das possibilidade de ação de um tradutor juramentado.


Como tal, fui contratado para celebrar, junto com o juiz de paz, uma cerimônia de casamento civil. Explico: quando uma das partes envolvidas nesse ritual social de união em martírio eterno, com direito a sexo eventual e milhões de horas de conversação unidirecional (convém explicar melhor em outro post), comumente chamado casamento civil, é um estrangeiro,o juiz exige que alguém traduza para o infeliz o teor do que está prestes a fazer. Há sempre a esperança, penso eu, que com a tradução ele se arrependa e diga, “ah, então é isso. Esqueci uma panela no fogo lá em casa. Já volto”. Ao que a noiva poderia perguntar, “mas sua casa não é em Pitsburg?” (Fecha-se a cortina em pano rápido).

Fiquei tão nervoso que mais parecia o noivo. Afinal, tornar-me-ia um cúmplice de tal aliança.

O curioso é que não só li os ritos, “você, Mr. So and So, aceita ciclana como sua esposa, etc, etc” como ainda fui obrigado a assinar junto com o noivo na certidão de casamento. Está lá, até que a morte os separe... Peraí, casamento civil: Até o dia de ler os termos do divórcio.

Mas até lá, “Deus meu! Sou quase o marido.”